Iluminador cênico há mais de 50 anos, paranaense Beto Bruel dá dicas para quem quer trabalhar no teatro
06/04/2025
(Foto: Reprodução) Profissional já trabalhou em mais de 700 peças teatrais, além de óperas, balés, shows, exposições e eventos. No 33º Festival de Curitiba, integrou ficha técnica de quatro espetáculos e ministrou palestra. Beto Bruel
RPC
O paranaense Beto Bruel é iluminador cênico e tem mais de 50 anos de carreira no teatro. No currículo, soma atuações no Brasil e no exterior em mais de 700 peças teatrais, além de óperas, balés, shows, exposições e eventos.
Indicado 11 vezes ao Prêmio Shell e premiado em cinco, Luiz Roberto Bruel dividiu parte do próprio conhecimento na 33ª edição do Festival de Curitiba. Ele ministrou uma palestra sobre a história do teatro paranaense e ainda esteve na ficha técnica de quatro espetáculos. Saiba mais abaixo.
Ao g1, o iluminador deu dicas para quem quer seguir carreira na área.
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A primeira delas é tentar entrar em um grupo de teatro amador. De acordo com ele, só existe uma escola voltada para iluminação cênica no Brasil, que fica em São Paulo.
Assistir a muitos ensaios para criar a luz também é um conselho do profissional, que afirma que iluminar um espetáculo é integrar um trabalho coletivo e democrático, "onde cada um contribui um pouco para realizar um sonho que é de todos".
“Hoje em dia a tecnologia nos dá muitos recursos, assisto muitos ensaios por vídeo quando as produções são de fora. Eu gosto de acompanhar tudo, cada detalhe, dificilmente crio para mais de um trabalho ao mesmo tempo. Procuro focar integralmente em cada produção que me envolvo”, conta.
Sobre como trabalha, ele diz não ter fórmula.
“Cada criação tem um ritmo, cada trabalho acontece de um jeito. Minha função é ajudar o diretor a contar uma história, o iluminador tem que descobrir qual é o jeito que o diretor gosta de fazer isso. Para que o trabalho aconteça tem que ter muita conversa com o diretor, com o cenógrafo e com o figurinista”, diz.
Espetáculo 'Som e Fúria'
Divulgação
🎭Beto Bruel em ação
Na edição de 2025 do Festival de Curitiba, o profissional compartilhou com o público presente um acervo de fatos históricos, notícias, fotos, cartazes, programas de peças e vídeos sobre a história do teatro paranaense.
Ele também integrou a ficha técnica de quatro espetáculos no evento:
"Cabaré Haikai", dirigido por Roddrigo Fôrnos, em homenagem ao poeta Paulo Lemmiski, na Mostra Lucia Camargo;
"Daqui Ninguém Sai", dirigido por de Nena Inoue, sobre a obra do escritor Dalton Trevisan, na Mostra Lucia Camargo;
"Nebulosa de Baco", dirigido por Marcos Damaceno, na Mostra Lucia Camargo;
"O Coveiro", de Diego Marchioro e Fernando Proença, que integra o Interlocuções.
Atualmente, ainda outras peças com a luz de Beto em cartaz pelo país e pelo exterior. São elas:
‘Avenida Paulista, da Consolação ao Paraíso’, direção de Felipe Hirsch, em São Paulo;
'A Nebulosa de Baco’, que está em temporada em Belo Horizonte,
‘Virgínia’, da atriz Claudia Abreu e direção de Amir Haddad, em Fortaleza;
‘Insignificância’, de Victor Garcia Peralta, no Rio de Janeiro;
'Dois Papas', de Munir Kanaan, em Guarulhos;
‘Sagração’, da Companhia de Dança Deborah Colker, em Portugal.
Caminho predestinado
Beto nasceu na Lapa, na região metropolitana de Curitiba, cresceu em Guarapuava, na região central, e chegou à capital paranaense quando tinha 14 anos.
Foi em Curitiba onde começou a carreira, em 1971, quando ainda era estudante no grupo de teatro do Colégio Estadual do Paraná. Na época, ele trabalhava em um cartório da cidade.
“Foi no susto que comecei, o grupo precisava de alguém para fazer a luz e eu me ofereci mesmo sem saber nada e achei aquilo muito interessante. A peça foi apresentada no Guairinha e trabalhei na mesa que era do Fernando Torres e da Fernanda Montenegro, que tinha sido comprada pelo teatro”, conta.
Lá ele conheceu a atriz Regina Bastos, com quem é casado até hoje.
Em 1973 integrou o Grupo Margem, de teatro experimental amador, criado por Manoel Carlos Karam, e, aos poucos, foi se aprimorando - até ser contratado por um grupo profissional em 1974.
Ele já foi dono de uma empresa de iluminação cênica que se consolidou como uma das maiores empresas do sul do Brasil e durante 12 anos forneceu equipamentos de luz e equipes de montagem para o Festival de Curitiba.
Espetáculo 'Não sobre o amor'
Divulgação
A imagem que nunca sai da memória
Entre tantas histórias da própria trajetória, uma delas, da infância, já dava sinais do caminho que iria traçar na vida.
Beto Bruel tinha sete anos e morava em Guarapuava quando, numa noite de inverno, os moradores da cidade que tinham carros foram convocados através do rádio para iluminarem a pista do aeroporto, para que um avião de pequeno porte pudesse fazer um pouso de emergência.
Ele foi na carroceria da caminhonete de um vizinho e lá os carros se organizaram nos dois lados da pista de terra do aeroporto. Numa certa altura, puderem ver o avião se aproximando e, assim que ele pousou no solo e percorreu a pista, uma poeira de pó iluminada pelos faróis se levantou. Essa imagem nunca saiu da cabeça do homem.
“Chegar um avião na cidade na época já era um acontecimento, à noite era ainda mais inusitado. A mobilização para salvar os tripulantes e a imagem daquele pouso nunca saíram da minha memória. Ainda hoje, quando estou no palco testando a luz e entra uma fumaça e se forma um facho de luz, fatalmente me lembro deste episódio do avião passando”, conta.
De Curitiba para o mundo
Beto Bruel com a atriz Fernanda Montenegro
Divulgação
A grande virada na carreira do artista foi o espetáculo ‘Som e Fúria’ (2000), do diretor Felipe Hirsch. A peça ficou sete anos em cartaz com temporadas nacionais e internacionais.
“Até então, eu não tinha saído de Curitiba com nenhum trabalho”, lembra.
Ele atribui também ao Festival de Curitiba grande parte do atual reconhecimento nacional do teatro paranaense.
“Sempre fizemos um bom teatro aqui, mas faltava alguém de fora ver e o Festival abriu essa janela”, deduz.
Foi no Festival, há dois anos, que estreou como diretor teatral no espetáculo “Ovos Não Têm Janela”, texto de Manuel Carlos Karam.
Pensando no futuro, ele revela que ainda deseja criar uma luz cênica para os casarios antigos do centro de Curitiba. Em maio vai viajar para a China, para participar da maior feira de iluminação cênica do mundo, e ainda neste ano, vai para Portugal e para a França com trabalhos do diretor Felipe Hirsch.
Serviço
🎭 33º Festival de Curitiba
Data: de 24 de março até 6 de abril de 2025
Programação: espetáculos teatrais, estreias nacionais, dança, circo, humor, música, oficinas, shows, performances e gastronomia.
Valores: de R$ 0 até R$ 85 (mais taxas administrativas)
Ingressos: No site e bilheteria física (Shopping Mueller)
Verifique a classificação indicativa e orientações de cada espetáculo.
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